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Entrevista a Luís Mira Amaral


Transcrevemos a entrevista que o jornal Público publicou hoje a Mira Amaral, ex-ministro de Cavaco Silva, actual presidente do luso-angolano BIC Portugal. A JSD revê-se na sua defesa pela importância estrutural das exportações para enfrentar a actual crise económica. O período que se aproxima a curto prazo será ainda de recessão, todavia, há-que procurar o quanto antes soluções que resolvam a médio e longo prazo o nosso atraso face às outras economias europeias em desenvolvimento.

"Miguel Cadilhe, no prefácio do seu livro, diz que procura responder a uma questão: "Como se sai disto"?
Primeiro, não se pode esquecer a cena internacional e acho que a recuperação rápida da economia mundial está fora de causa. Vamos ter uma recuperação lenta, havendo a ameaça, que não está afastada, de uma nova recessão.

E Portugal?
Vamos levar muitos anos de sangue, suor e lágrimas. Repare que aquilo que o primeiro-ministro disse, eufórico, que Portugal registou o maior crescimento da zona euro do primeiro trimestre, não é sustentável. Porquê? Porque a recuperação foi induzida pelo aumento do consumo e das exportações. Se em relação a estas últimas, esperemos que sejam sustentáveis, quanto ao consumo, e com as medidas de aperto, vai haver uma queda. Daí que os cenários para 2011 e 2012 sejam mais sombrios do que aquilo que foi anunciado. Bastam as medidas que aí vêm, de aperto fiscal a sério, para estes cenários piorarem.

Vamos caminhar para uma crise da procura?
Portugal já está em crise há muitos anos e vamos levar muitos anos para ultrapassar as nossas debilidades estruturais. A única hipótese é termos um crescimento liderado pelas exportações. Com os desequilíbrios internos não vejo possibilidade de liderar isto pelo consumo privado ou público, dado o endividamento externo, das famílias e do Estado.

Mas já não podemos contar com alguns dos mercados mais próximos...No livro, evidencio dois casos, o de Angola e o de Espanha. Espanha tem, tal como nós, graves problemas e as análises mostram que não vai ter um crescimento rápido. Hoje não é realista contar com a Espanha, que foi um grande mercado para Portugal antes da crise.

O PS e o PSD fizeram bem ao elegerem a Espanha como prioridade?Aquela mania de "Espanha, Espanha, Espanha" foi um exagero. Espanha estava a crescer e nós não podíamos deixar de aproveitar. Agora, os governos [de Durão Barroso e de José Sócrates] ao dizerem esta frase deram um sinal de que a Espanha ia ser a nossa salvação, o que é um erro. O modelo económico espanhol era um gigante com pés de barro. E não era sustentável. Porquê? Porque foi feito à custa da bolha imobiliária, as casas dos espanhóis cada vez valiam mais e eles sentiam-se mais ricos e consumiam mais. E depois havia um influxo de mão-de-obra não qualificada para o sector imobiliário. A competitividade no sector dos bens transaccionáveis em Espanha, onde está a indústria, não era superior à portuguesa porque os ingredientes da economia não eram famosos. E pensar que Espanha era a salvação foi um disparate. Agora o Governo fez uma coisa correcta. É que a partir de certa altura, corrigiu o erro, e começou a diversificar e a apostar na Argélia, em Angola, na Venezuela, na Líbia e no Brasil. E fez bem.

No livro afirma que não vamos crescer à custa dos mercados comunitários?A minha análise mostra que precisamos de estar no euro para ter estabilidade financeira e cambial, mas depois só vamos crescer à custa dos mercados não comunitários. E mesmo que a Alemanha aumente a procura e o consumo, como nós temos um perfil de exportações muito parecido com os asiáticos, é fácil perceber que o aumento da procura alemã será também aproveitado pela Ásia. Onde temos um perfil mais adequado às necessidades é em mercados não comunitários.

Não faria sentido políticas keynesianas de aumento da procura?Em Portugal não. Porque estamos a ajudar outros mercados, a dinamizar as exportações e o emprego noutros locais, pois somos um pequeno país aberto ao exterior. Esta política só é valida para economias fechadas. E com a nossa dívida pública e a dívida externa, também não conseguimos relançar a procura cá dentro. Há asfixia financeira e não temos oferta para aproveitar. O único país europeu em condições de beneficiar de uma política keynesiana é a Alemanha e mesmo assim adoptou medidas de austeridade. Os países do Sul deviam ter uma política de emagrecimento, mas a Alemanha como locomotiva europeia devia fazer alguma compensação.

Por que não o fez?O Governo alemã herdou uma velha tradição de grande disciplina orçamental e de medo do aumento da inflação. É esse reflexo mental alemão que o leva a entrar num programa de austeridade.

No seu livro tece considerações sobre a acção do BCE e da Fed...Quando analiso as políticas monetárias da FED e do BCE chamo a atenção para que são diferentes, e não é porque o BCE não tenha a mesma competência técnica. Mas é porque o Governo alemão quase que tem aqui um direito de veto, uma espécie de golden-share sobre o BCE, que impede que este seja tão expansionista ou agressivo como a FED. Quando o BCE compra divida pública dos países em maior dificuldade, e compra no mercado secundário, quem votou contra foi o governador alemão, o que mostra o seu conservadorismo. Ele tem a tese de que se nós não tivermos estabilidade financeira, se os mercados não nos emprestarem, seria o desastre. Mas acho que ainda não estamos nessa situação.

Vamos acabar com um BCE mais Bundesbank ou mais Fed?Vai ser mais Bundesbank. Os alemães têm no BCE uma golden-share e se quisermos salvar a zona euro vamos ter de caminhar para um maior federalismo orçamental e fiscal o que significa um maior comando alemão. E já se fala que os alemães vão indicar o nome que vai substituir Trichet à frente do BCE.

Essa solução não vai criar tensões fortes, dentro da zona europeia?Vai. Mas os países do Sul não têm outra alternativa: Portugal, Espanha, Grécia e, eventualmente, Itália. Com o ajustamento que fez, a Irlanda já saiu dos radares. Há vários cenários: a Alemanha farta-se e sai do euro, e o euro sem a Alemanha fica a falar sozinho; no meio do programa de ajustamento, que vai ser doloroso, pode haver pulsões populistas que levem, por opção estratégica, a Grécia a sair do euro, para desvalorizar a moeda, e depois Portugal e depois a Espanha; ou, finalmente, avançar para um maior federalização das políticas orçamentais e fiscais. O que para mim significa soberania partilhada com Bruxelas e sujeita ao visto alemão. Esta é a única forma de salvar a zona euro. E neste cenário os alemães ganham maior importância, pois são o país mais forte, e que impõe o comando. E o BCE também.

A crise da UE passa apenas pela federalização das políticas orçamentais e fiscais?Também se devem criar mecanismos anticrise mais rápidos e explícitos e ainda ter possibilidade de escalonamento parcial de dividas públicas o que significa um default organizado.

Teme a vinda do FMI a Portugal?Não, se as medidas propostas pelo Governo forem executadas a sério e introduzidas mais algumas reformas não vamos precisar da ajuda do FMI, como necessitou a Grécia. Se o PEC não for aplicado, então vamos precisar da ajuda."

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