“E a abstenção?”

Estamos a meio do primeiro trimestre de 2019 e já se sente o calor eleitoral no nosso sistema político. Temos eleições em maio e em outubro. Vemos todos os partidos políticos a começar a caminhar no sentido das suas ambições, realizando os seus eventos, apresentando as suas listas de candidatos e de vez em quando lá apresentam uma ideia para o futuro do país e da Europa.

O jogo político continua o mesmo. Continua-se a fazer política para os mesmos. Continuamos a assistir a discursos pesados e redundantes que nada dizem. Continuamos a ver um governo que promete e volta a prometer. Um governo que dá o que tem e o que não tem, mas que depois do impacto social se ter generalizado chumba as próprias propostas. Continuamos a assistir a um governo que apesar de ser apoiado por partidos de esquerda, desvaloriza as inúmeras greves e protestos que se estendem por variados setores públicos. Continuamos a ver todos os ministros a curvarem-se perante o “ministro das cativações e da carga fiscal”, Mário Centeno. E poderia continuar a enumerar todos estes cenários mas iria fugir ao meu foco.

Poderão todos estes jogos de comunicação influenciar a opinião pública em relação aos políticos? Até quando iremos continuar com a generalização de que todos os políticos são iguais? Hoje assistimos a uma completa desvalorização da democracia por parte das pessoas, e por vezes, por parte daqueles que exercem cargos políticos. Senhoras e Senhores Deputados, irão continuar a ter presenças fantasmas na Assembleia da República? É essa a consideração que nutrem pelo povo português? Continuarão a passar a mensagem de que só se importam com os problemas da sociedade de quatro em quatro anos? E para esclarecer, não, a Assembleia da República não é um salão de manicure como há tempos ficou conhecida. O povo português merece mais da política. Até quando é que os sucessivos nepotismos, mais conhecidos por “cunhas”,  irão continuar? Onde fica o mérito? Eu percebo a estratégia, por vezes é mais importante viciar o jogo a nosso favor, do que fazer o que é mais importante para o país. Por isso não podemos desvalorizar todas as nossas capacidades, devemos compreender que a política terá de servir sempre as pessoas e que estas deveram ter noção disso. Independentemente da cor partidária, o foco deverá ser a aproximação da política às pessoas e quando isso acontecer, certamente que não haverá tamanho desinteresse como aquele que hoje assistimos com as expressivas taxas de abstenção.

Portugal, é o sexto país da OCDE com os níveis mais baixos de participação política. Nas eleições europeias de 2014, teve uma taxa de abstenção de 66,2% representando a maior taxa de abstenção de sempre. Nas eleições legislativas de 2015, 44,1% da população votante não o fez. Talvez o problema seja bem maior do que apenas números. A nossa democracia não é perfeita, é facto, mas foi algo que nos custou muito a conquistar e que infelizmente se “esqueceu” poucos anos depois. Conseguimos a liberdade, mas aos poucos vamos perdendo a democracia se continuarmos a desvalorizar a sua importância para o nosso quotidiano. 

Antes de se impingir o voto no Partido A, B ou C deverá haver uma consciencialização da importância do voto e da sua relevância para os anos futuros. Antes de se erguerem cartazes gigantes com a cara de um candidato, deverão existir mecanismos que explorem e sobretudo realcem que o ato de votar é das poucas oportunidades que temos para nos expressarmos face à situação atual do país. E se calhar devemos igualmente procurar um vocabulários mais simples para que todos entendam com clareza aquilo que estão a tentar dizer.

A abstenção é um problema sério a que não podemos fechar os olhos. A democracia é algo que deverá ser sempre salvaguardado e valorizado, todos sabemos que há medidas temos que tomar.


Diogo Guerra - JSD Odivelas