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Vítimas Caladas ou História Silenciada?


«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades», certamente já ouvimos esta frase milhares de vezes e, neste tema em particular, esta expressão servirá de mote para a presente reflexão.
Desde os primórdios que ocorre a construção de monumentos com intuito de glorificar figuras ou momentos históricos, tomo como exemplo os faraós com as suas pirâmides e templos, ou os romanos que edificavam arcos de triunfo aos seus imperadores. Mas, assim como glorificavam certas figuras apagavam outras, os romanos em particular tinham o damnatio memoriae, em que os imperadores ordenavam a raspagem do nome de certos antecessores seus que tivessem sido depostos ou assassinados, este ato tinha como objetivo reforçar e marcar os atos criminosos daqueles imperadores, não o seu esquecimento. 
Contudo, a história regista casos mais infelizes, os nazis queimavam livros que eram contra a doutrina do regime, os soviéticos executavam quem desafiava aqueles que eram opostos aos factos transmitidos pelo regime e, talvez o melhor exemplo, é o lendário livro que aconselho todos a ler do George Orwell - “1984”, em que temos um regime que altera os factos como os deseja ou idealiza.
Com estes curtos exemplos apresentados, sou conduzido a uma questão quase óbvia, porém, a sua resposta é menos clara: a demolição de estátuas deve ou não acontecer?
Claro que depende da perspetiva, verificamos no caso das estátuas dos confederados nos Estados Unidos da América, símbolos óbvios da escravatura e do ódio, mas existe um facto bastante interessante, Robert E. Lee. Um dos principais generais dos confederados e talvez o mais conhecido, pois este era contra a construção de estátuas a generais confederados, no entanto as mesmas foram contruídas. Se estas devem ou não ser destruídas, de um ponto de vista histórico inicialmente afirmaria que não, comparando ao ato de queimar livros resume-se à mesma coisa, sendo nada mais nada menos que uma tentativa de alteração da história como que de uma vista de “olhos cor-de-rosa”. A história está rodeada de grandiosos e tristes ou infelizes atos, tanto os grandiosos como os infelizes devem de ser confrontados e não destruídos, caso contrário estaremos destinados a transformarmo-nos naqueles que combatemos.
 Porém, podemos de facto remover figuras históricas, no entanto a memória desta figura não é esquecida, um dos casos mais óbvios é Hitler. Não temos estátuas dele, não existe simbologia pública da sua ideologia, mas todos sabemos quem ele é e conhecemos o seu legado. Outro exemplo é o caso de Estaline, após a sua morte em 1953, entrou-se numa época de “destalinização”, em que se procedeu à demolição de estátuas públicas de Estaline, mais uma vez conhecemos o legado e, no entanto, não o temos à vista de todos pelas ruas. Com estes dois lados da moeda podemos concluir que, sim algumas estátuas devem ser retiradas, recentemente a República Checa removeu a estátua de Ivan Konen, um dos melhores generais soviéticos, no entanto a mesmas lembrava a ocupação soviética (que não foi muito simpática). Simpatizo com a ideia, mas não acredito que se deva fazer deste ato moda, seria uma tentativa de instruir amnésia à humanidade e como tal a história não se destrói, discute-se, se não recordarmos os nossos erros estamos condenados a repeti-los!
Agora, de um ponto de vista simbólico, ou por outras palavras, o que estas figuras representam, a situação pode tornar-se ainda mais problemática devido a uma questão também um pouco óbvia, que passa pela natureza humana. Assistimos a um caso perto de nós, a estátua de Padre António Viera, que foi vandalizada com palavras de ordem referentes à descolonização, o que prova uma vez mais que tudo chega a Portugal só que mais tarde. O Padre António Vieira destacou-se como um brilhante missionário, como a defesa dos povos indígenas do Brasil, contudo, também foi um defensor da importação de escravos oriundos de África para compensar a falta de mão de obra no Brasil, logo a partir desta pequena história observamos o problema de contarmos com figuras históricas que apesar de serem brilhantes tiveram certas controvérsias.
No caso de Marquês de Pombal, o poderoso ministro de D. José e responsável pela reconstrução de Lisboa, a introdução da primeira região demarcada da Europa no Douro conhecida como “Vinhas do Alto Douro”, também foi autor de grandes reformas económicas assim como da sua célebre frase «cuida-se dos feridos, enterra-se os mortos». Este também teve a sua “lista de pecados”, foi considerado o principal responsável pela execução dos Távoras, que chocou a Europa, assim como é conhecido pela perseguição cruel daqueles que o opunham. Agora, justifica-se destruir as suas estátuas? Não. O mesmo se aplica ao Padre António Viera que, para muitos, antes de toda esta situação, se calhar passavam por aquela estátua e nunca pensaram nela ou no seu significado, no entanto agora decidem vandalizá-la. Podem ter cometido vários atos que para os dias de hoje são considerados claramente errados, mas também temos de perceber que julgar estas figuras com a nossa moral atual não só é impossível como não se adequa. Para alguns é apenas uma estátua, mais uma entre muitas, para outros é um símbolo de algo nefasto, agora, cabe a cada um respeitar e aprender tanto com os êxitos como com os erros destas figuras, se assim for feito as estátuas estão a servir o seu propósito.
Por outro lado, temos outras figuras históricas ligadas ao colonialismo que merecem a condenação merecida, o caso do rei D. Leopoldo II da Bélgica, conhecido por ter transformado o Congo na sua propriedade privada conhecido como o Estado Livre Do Congo, não como uma possessão belga, mas sim a possessão deste rei responsável pela morte de 10 milhões de congoleses. Foi sem dúvida condenável e, neste caso, tal como referido anteriormente, também simpatizo com a remoção da sua estátua, ao retirá-la não significa que estamos a remover a sua memória, mas de facto na época da sua existência, Leopoldo recebeu uma condenação internacional, relembro que estamos a falar no séc. XIX, a época dourada dos impérios europeus e, no entanto, estes mesmos impérios condenaram as ações deste rei. 
Agora, qual a minha conclusão? Bem, na realidade é que destruirmos estátuas não vai remover as ações cometidas nem as vai remediar, porém, tivemos figuras públicas que foram removidas e, no entanto, conhecemos essas figuras. O meu receio debate-se com a questão de que serão as pessoas capazes de se recordar dos atos e destas figuras? Talvez numa frase nunca dita, Hitler e Estaline dão-me uma visão otimista, sim a história perdurará. Mesmo assim, executar julgamentos sumários a pessoas que já não se podem defender não só é injusto como contraprodutivo, o melhor juiz e talvez o mais imparcial é a história. Isso é o mais importante, se começarmos a escolher aquilo que queremos ou não queremos por causa do seu legado sombrio, estamos só a ser infantis, incapazes de enfrentar a realidade. 
Da próxima vez que olhares para uma estátua, em vez de a julgar, deves olhar para ela como uma forma de inspiração a ser melhor do que o passado, se isso acontecer significa que a sua verdadeira mensagem está a ser passada de geração em geração!

Guilherme dos Prazeres - Vogal da JSD Odivelas

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