Pela liberdade, igualdade e solidariedade!
Cresci e vivo num dos concelhos com maior multiculturalidade do paĆs, onde conhecemos diversas nacionalidades, culturas, raƧas e etnias. NĆ£o sei precisar ou explicar o quĆ£o normal Ć© esta realidade para mim mas, a verdade Ć© que esta Ć© a realidade que eu melhor conheƧo e entendo, quero com isto dizer que, para mim nĆ£o existem diferenƧas entre seres humanos, cada individuo tem as suas caracterĆsticas e Ć© isso que nos distingue uns dos outros, no entanto, enquanto pessoas somos todos iguais, devendo ter todos acesso aos mesmos deveres, direitos e igualdade perante a justiƧa. Ć importante referir que provavelmente penso desta forma e tenho alguns dos valores que tenho nestas questƵes por ser odivelense.
Assistir à situação que ocorre atualmente nos Estados Unidos da América não me deixa de todo confortÔvel, consciencializando-me que em pleno século XXI existem situações de tamanha injustiça, neste momento o caso de George Floyd é tão discutido e mencionado porque foi filmado. As questões com que mais me debato nestes últimos dias são: quantos Georges neste mundo não foram filmados? Quantos mais continuarão sem o ser? Pior, quantos mais Georges são filmados, são testemunhados e não é obtida qualquer tipo de justiça social?
São levantadas vÔrias questões quando acontecem este tipo de cenÔrios, desde as questões do racismo, às diferenças económico-sociais, as questões de cultura, de pobreza, do abuso policial, entre outras. Na realidade resume-se tudo a um ponto único.
Ć nestas alturas que percebo perfeitamente que me encontro no partido polĆtico certo, que a camisola que visto e bandeira que defendo sĆ£o sem dĆŗvida as mais justas. As trĆŖs setas existentes e caracterĆsticas da social democracia tiveram origem na Alemanha e, estas simbolizavam trĆŖs fatores: o poder polĆtico e intelectual, a forƧa fĆsica e a forƧa económica e social, revendo estes fatores como a melhor forma de combate ao nazismo, comunismo e fascismo. No fundo, a social democracia aparece na Europa como a solução contra os sistemas totalitĆ”rios. Espalhando-se posteriormente um pouco por toda a Europa, adaptou-se Ć s sociedades e paĆses de atuação, sendo que, em Portugal as setas simbolizam os valores fundamentais da social democracia: liberdade, igualdade e solidariedade.
Quando assistimos ao abuso de poder na primeira pessoa sentimo-nos injustiƧados e devemos tomar algum tipo de atitude, com o intuĆto de nĆ£o sofrermos ou sermos afetados por terceiros que usem indevidamente algum estatuto apenas por ser um superior hierĆ”rquico na escola, no trabalho, no seio familiar ou em qualquer lugar ou serviƧo, mesmo que esse serviƧo se destine Ć proteção e seguranƧa da população. Nada nem ninguĆ©m estĆ” acima da lei, sabemos que vivemos num mundo desigual onde nem todos os indivĆduos tĆŖm a oportunidade de alcanƧar os direitos humanos, no entanto, nada justifica que em Estados minimamente desenvolvidos se verifiquem situaƧƵes como as de George. Com isto nĆ£o estou a querer dizer que os Estados Unidos da AmĆ©rica sĆ£o um paĆs minimamente desenvolvido, pelo menos nĆ£o o aparentam ser, mas quando assistimos a situaƧƵes destas questionamo-nos se esta Ć© realmente uma das maiores potĆŖncias mundiais. Como Ć© que podemos ser tĆ£o grandes e tĆ£o pequenos ao mesmo tempo? Na mesma semana em que lanƧam uma nave tripulada para uma estação espacial, um homem, nesse mesmo paĆs, Ć© asfixiado atĆ© Ć morte por um agente de seguranƧa pĆŗblica em plena luz do dia na via pĆŗblica, encontrando-se vĆ”rias pessoas a assistir a pedirem ao agente para parar e ainda assim, o mesmo decide nĆ£o parar enquanto George afirmava ofegante que iria morrer se o polĆcia assim continuasse.
Debato-me com o entendimento do significado de igualdade de oportunidades e igualdade de direitos. Todas as sociedades tĆŖm os seus problemas sociais, questƵes que dificultam o seu quotidiano, a desigualdade social estĆ” presente um pouco por todo o lado do globo, mais evidente em certas Ć”reas comparativamente a outras. Deste modo, constata-se que ainda nĆ£o foi alcanƧada a “sociedade ideal” e nĆ£o o serĆ” enquanto existirem desigualdades sociais de tamanha dimensĆ£o.
Por outro lado, assistimos às consequências destrutivas causadas por estas desigualdades e injustiças, originando protestos e retaliações por parte de manifestantes a governos que não têm a capacidade de assegurar, proteger e dignificar a própria vida humana da sua sociedade. Grande parte da população nos EUA sente-se injustiçada e apela ao seu governo e às organizações mundiais competentes que obtenha e aplique soluções de forma a erradicar situações como as do George. No entanto, verificam-se atitudes de total desespero entrando num campo criminal, combatendo atos criminosos com outros atos criminosos. A História tem a capacidade de nos explicar que desta forma só são provocados mais problemas e desigualdades sociais.
Quando procuramos justiƧa devemos ser superiores Ć queles que levam a cabo as injustiƧas, demonstrando-lhes que existem formas e regras adequadas para se viver em sociedade. Deve ser clara a mensagem a passar a pessoas como o agente que assassinou George: somos iguais independentemente do estatuto social, do meio em que se nasce, da nacionalidade, da cor da pele, da profissĆ£o, da idade, das capacidades fĆsicas ou motoras, do sexo ou entidade de gĆ©nero, do grau de escolaridade, entre todas as outras caracterĆsticas que nos possam diferenciar. Enquanto a humanidade na sua totalidade nĆ£o se consciencializar de que as diferentes caracterĆsticas nĆ£o nos separam e sĆ£o irrelevantes na nossa passagem pelo mundo, infelizmente mais casos como os de George vĆ£o ocorrer, quer longe ou perto das cĆ¢meras.
Ć urgente e necessĆ”rio que as pessoas que lutam pela igualdade se unam e demonstrem a todos os outros que existe revolta, mas enquanto se lutar com as armas fĆsicas os problemas e diferenƧas sociais nĆ£o estĆ£o realmente a ser combatidos e, assim, nunca terminarĆ£o. Ć necessĆ”rio apresentar as soluƧƵes e persuadir o resto da população Ć verdadeira paz social, apelando Ć igualdade social.
O George certamente se tornou imortal na memória de todos nós, no entanto a revolta que acontece atualmente nos EUA nĆ£o me suscita seguranƧa ou paz. Ainda nĆ£o consegui precisar se esta Ć© uma questĆ£o de racismo, pergunto-me se aquele polĆcia nĆ£o agiria da mesma forma se o George fosse mais semelhante (fisicamente) a ele? A realidade Ć© que nunca vamos ter a resposta a essa questĆ£o, pois a ser verdade, o agente nĆ£o o irĆ” admitir. No inĆcio deste artigo referi que, na minha opiniĆ£o, todas as questƵes levantadas com a situação que hoje se discute a nĆvel mundial se resumem a um Ćŗnico ponto, casos como os deste afro-americano jĆ” nĆ£o se tratam de questƵes politicas ou da sociedade, trata-se de uma questĆ£o de humanidade dependente de cada um de nós.