Nestes últimos meses, várias propostas que têm como fio condutor a solidariedade intergeracional - tema que comecei por abordar aqui - foram apresentadas sobre forma de moções ou compromissos de políticas do governo.
Durante o XXXV Congresso do PSD, a JSD apresentou uma moção que continha a proposta para a inscrição da chamada “regra de ouro”. Esta refere-se àimposição constitucional de limites vinculativos para a despesa pública nominal. Não gastar mais do que temos - parece lógico - certo? Não para todos. Não tardou a surgirem as bandeiras de que esta regra irá acabar com o estado social. Haveráhipótese para um estado social se este for insustentável? Quem paga, e como? Fica a questão.
Depois, o próprio primeiro-ministro encerrou o congresso anunciando a aposta em políticas de natalidade. Tendo em conta que a actual demografia tem um peso significativo na balança económica, (“contribuintes” menos “não contribuintes” - onde se incluem os reformados, desempregadose basicamente com os primeiros a sustentarem os segundos), esta parece ser também uma política de preocupação intergeracional (falta ver como se traduz em propostas concretas eficazes).
Por fim, os pedidos constantes de consensos com a oposição (não sópelo governo, mas também pelo Presidente da República) e que têm sido negados ou ignorados constantemente e sem desculpas plausíveis pelo secretário-geral do principal partido da oposição, também me parecem na sua génese, uma forma de responsabilidade geracional. Uma espécie de vamos lá ver o que queremos acabando com as tantas mudanças de rumo - quantos governos constitucionais - e que nos têm deixado zonzos no mesmo sítio[1], ou pior. Perdemos todos quando não nos entendemos.
Mas serão estas medidazinhas suficientes a curto prazo?
Think outside the box
Políticas solidárias entre gerações são tão difíceis de atingir, porque faltam reformar as vontades, falta ética de serviço público e principalmente, faltam-nos políticos corajosos. Se não vejamos, politicamente falando é mais fácil e proveitoso agradar às maiorias a curto prazo - aumenta a popularidade e evita contestação, tornando o mandato num “walk in the park”, evitando dores de cabeça e colhendo elogios e satisfação das populações. São os “políticos bonzinhos”. Diz-se o que as pessoas querem ouvir, fazem-se coisas pouco comprometedoras, gasta-se dinheiro emprestado para encher os olhos ao povo. Faz-se a festa. Não interessam os efeitos em 10/20 ou 30 anos. Nessa altura o mandato jáacabou…E com essas medidas, que são as que trazem mais votos ganham a quase-certeza de continuar no poder na legislatura seguinte…
Depois de tempos a tempos vêm os outros, os “políticos maus e sádicos”, que normalmente apanham as canas dos que lhes antecederam e um povo tão embriagado de festa que lhes é difícil mudar acordando para a realidade. São maus porque dizem não a bens supérfluos que antes eram considerados essenciais, lutam pelo rigor orçamental e por cumprir compromissos, por crescer economicamente dentro das possibilidades. Gostam de fazer sofrer as pessoas, porque se preocupam não com o próximo mandato mas com os próximos dez.
Infelizmente do primeiro tipo de políticos, dos “bonzinhos”, temos muitos, e dos outros que equilibram as contas já nem tanto.
[1] - Economicamente falando, e sem menosprezar todos os progressos feitos por Portugal em tantas outras áreas.
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