O presidente da comissão europeia, Durão Barroso, interveio hoje no sentido de criticar aquilo a que chama a intervenção excessiva de "algumas" capitais europeias nos destinos da União, em óbvio detrimento das decisões dos órgãos comunitários, incluindo aquele a que preside.
Ora, Durão Barroso podia ter ido mais longe, e admitir a verdadeira crise política que uma "Europa alemã" atravessa - uma crise que excede a desintegração das finanças do sul, que é muito mais que a desorganização culposa das suas governações. É uma crise de democracia e de afirmação dos Estados.
São os países europeus, os próprios, que proporcionaram este quarto reich, aqueles que pensavam ceder a sua soberania à Europa, quando afinal, a cederam à Alemanha. Porque, afinal, os alemães têm mérito: sobreviveram às guerras e são hoje a maior potência económica europeia. Porque tal forma de vida regrada lhes concedeu esse privilégio magnífico de subtilmente mandar nas nossas importações, no nosso consumo, no nosso acesso ao crédito. E quase que instrumentalizando as regras da União, nos fazem crer que a sua chefia subterrânea é uma espécie de paternalismo inevitável.
A Alemanha de Merkel é a Europa. Afirmar isto é tão triste como dizer que perdemos identidade.
Recomendamos vivamente a leitura de "A Europa Alemã - de Maquiavel a Merkievel. Estratégias de Poder na crise do Euro" de Ulrich Beck.