Independentemente das nossas posições de princípio sobre a privatização de uma companhia aérea detida maioritariamente por capitais públicos e, por isso, que até agora, assumiu um papel de interesse público, a única aliás em Portugal, a verdade é que todo o processo foi bastante mais penoso para os portugueses do que poderia ter sido, se as partes em questão tivessem sabido medir as forças uns dos outros com realismo. O cenário de não privatização há muito que não parecia possível, e esse anúncio feito e refeito por diversas ocasiões, tornou-se ainda mais real depois do ciclo de greves que só fizeram afundar ainda mais a empresa. Os pilotos em greve não contestavam já a privatização. As acções de greve que empreenderam não tinham o fim honroso de evitar qualquer dissipação do património do Estado, nunca houve qualquer luta pelo interesse público. Pelo contrário, as suas reivindicações pareceram bastante privadas, pois afinal o que sempre pretenderam foi obter, sem contrapartidas, uma parte do capital social da empresa. Interesse público!? A greve é um instituto que não quero pôr em causa, deve ser respeitado e usado em prol da defesa de direitos fundamentais. O facto de constantemente ser deturpado o seu verdadeiro sentido, só desvirtua a sua utilidade e passa a ser vista como uma arma de arremesso para a manutenção de privilégios que alguns trabalhadores têm, já não face às empresas, mas face a outros trabalhadores.
Obviamente que tal greve, cujo objectivo não passou despercebido, condicionou todo o processo de venda, que afastou alguns investidores amedrontados com a falta de "controlo" da empresa sobre os funcionários. Mas permitiu confirmar que as cedências devem existir, o compromisso e o bom sendo devem prevalecer. Não vejo como uma saída positiva para o Governo, que se manteve na decisão tomada, mas vejo um saldo muito negativo para o país. Já não há volta a dar na privatização, ainda mais agora, que as finanças da empresa pioraram. Os pilotos conseguiram uma estranha proeza, já ninguém defende a não privatização: de uma vez por todas, que não sobre para o bolso dos contribuintes! O saldo negativo é também para as classes que de forma pouco solidária pretendem tirar partido por interesses pessoais numa altura em que são pedidos sacrifícios aos portugueses.