Dia Nacional do Estudante
Esta é uma data bastante importante para todos nós, estudantes, ainda para mais no contexto pandémico que vivemos, em que nos tivemos e continuamos a adaptar a uma série de condicionantes que não estávamos de todo habituados.
Mas antes de qualquer reflexão em relação a esta data, importa falar um pouco sobre a sua história. Em Portugal, o Dia Nacional do Estudante, foi promulgado pela Assembleia da República em 1987 e é comemorado todos os anos, no dia 24 de março.
Esta, não é somente uma data comemorativa, é também um dia de luta e homenagem às dificuldades e obstáculos que os estudantes enfrentaram na crise académica dos anos 60. Para muitos torna-se impossível falar sobre a importância de assinalar esta data, sem antes referir dois episódios marcantes.
Em primeiro lugar, a crise académica de 1962, que começou no dia 24 de março quando o governo de Salazar proibiu as comemorações do Dia do Estudante e milhares de estudantes concentraram-se na Cidade Universitária em Lisboa, em protesto às deliberações do Ministro da Educação. É considerado um dos principais momentos de conflito entre os estudantes universitários e o regime do Estado Novo. Nos dias que se seguiram, vários estudantes fizeram greve geral às aulas e centenas acabaram por ser detidos.
Em segundo lugar, a crise académica de 1969 que começou dia 17 de abril quando não foi permitido aos estudantes o uso da palavra durante a inauguração do edifício das matemáticas. Os estudantes da Universidade de Coimbra que já estavam em protesto contra o regime exigindo a democratização do ensino superior, invadiram a sala onde decorria a inauguração. O Ministro da Educação e o reitor da Universidade de Coimbra acabaram por se demitir e vários estudantes foram forçados a seguir para a guerra do ultramar.
De uma forma muito simples e sucinta, até porque havia bem mais para dizer, olhando para as duas crises académicas mencionadas acima, pode ser esclarecida a razão que leva inúmeras federações e associações académicas e de estudantes a comemorar este dia, em homenagem ao espírito dos estudantes que lutaram contra a opressão na década de 60.
Nos dias de hoje, a comunidade estudantil encara uma realidade diferente, mas ainda assim, complexa. Em 2020 todos nós, estudantes, assistimos a uma reinvenção “forçada” no modo e método de ensino, não só em Portugal, mas também por todo o mundo fora. Podemos mesmo falar de uma mudança radical que pelos motivos óbvios, não foi planeada. São tempos difíceis estes, que os estudantes enfrentam, estando longe de imaginar há pouco mais de um ano, que as nossas instituições de ensino viriam a ser substituídas pela plataforma zoom, e que todos os trabalhos de grupo e convívios viriam a ser realizados à distância.
Creio que esta nova realidade de ensino, face à situação pandémica que vivemos, fica especialmente marcada pelas dificuldades e obstáculos na aprendizagem que os estudantes enfrentam, mas também pelas desigualdades sociais que se tornam mais evidentes, como a falta de acesso a materiais tecnológicos para acompanhar as aulas ou mesmo, a falta de condições em casa para assistir às mesmas. Não podemos ser indiferentes a esta situação. Numa era em que o acesso universal à educação é cada vez mais defendido, os relatos de assimetrias no acesso ao ensino à distância são preocupantes. Tal como a Constituição da República Portuguesa refere, o Estado deve garantir o acesso a uma escola de qualidade independentemente do estatuto económico e social das famílias. E a verdade é que a capacidade que estas têm ou não para dar apoio aos seus educandos tem bastante impacto na sua aprendizagem. Capacidades estas que passam pela possibilidade financeira de pagar explicações ou a própria aptidão para conseguir explicar as matérias escolares aos filhos ou ainda, o tempo disponível para ajudar nos trabalhos de casa, falamos assim de recursos financeiros, conhecimentos e tempo, necessários e cruciais para um ensino de qualidade.
Para que não nos esqueçamos, já Kant dizia “o Homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”. O ensino à distância pura e simplesmente não substitui o ensino presencial e este tem vindo a acentuar desigualdades no aproveitamento dos alunos, precisamente o oposto do pretendido num sistema de ensino.
Que estes tempos infelizes para toda a comunidade estudantil desapareçam rápido, e que em breve, estejamos todos juntos nas diversas instituições de ensino a aprender, a crescer e a viver… em bom!